segunda-feira, 9 de maio de 2022

HOJE NÃO VAI TER JORNAL

 


 Boanerges Cezário*


Uma vez, num certo dia de inverno cinzento, um jornalista tomou seu café tranquilo, mas estava aflito, apesar de aparentar muita calma.

Pela manhã, cedinho, o editor geral já havia lhe passado uma mensagem pedindo para ele correr atrás das notícias que lhe foram pautadas .

A aflição dele era porque em dias de chuva as pessoas se retraem naturalmente, a empolgação para responder a uma indagação jornalística nas ruas fica mais rarefeita, pois na verdade as pessoas querem ficar dentro de casa, dentro dos escritórios, trabalhando virtual nos seus home offices.

Mas editor é editor e ai daquele jornalista que voltar pra redação e não trouxer as matérias completas com todos os detalhes.

Numa sequência rápida, dá para você, leitor, pensar abrindo o jornal pela manhã, tomando seu café, e se deparar com as páginas do jornal em branco? No meio da página você lerá um aviso de que apesar do esforço geral dos repórteres não foi possível escrever uma linha...

Alguns leitores acharão gozado, outros cancelarão assinaturas, patrocinadores se afastarão , retirando suas contas daquela mídia, sem falar na repercussão profissional que o meio jornalístico vai comentar.

Os leitores mais antigos vão lembrar até do tempo que os jornalistas tinham notícias, mas nada podiam publicar, momento que havia censura cotidiana à liberdade de expressão jornalística. Bom, mas isso só os antigos iriam lembrar, só nunca entenderiam abrir um jornal nos dias de hoje e ver aquela expressão apesar do esforço geral dos repórteres não foi possível escrever uma linha...

Pois bem, dia desses me deparei com uma penhora onde o executado era um jornalista, que não cedia para abrir as portas do imóvel para que eu pudesse avaliá-lo.

Fiquei imaginando  se eu fosse comparar o juiz ao editor e devolvesse o mandado sem cumprimento. Assim como o jornalista informou ao editor que não conseguiu trazer as matérias pautadas, fazendo com que o jornal fosse publicado em branco, eu dissesse ao juiz que não terminei a diligência porque o executado não abriu as portas do imóvel...

Acho que, naquela situação o jornalista levou o maior esporro do editor geral e perdeu o emprego, claro!.

Quanto a mim, como oficial de justiça, não vou receber bronca do juiz por causa disso, nem me arriscar a ser exonerado via processo administrativo e sujar minha folha...

Cumprirei o mandado, relatando resistência do executado jornalista e deixarei a reprimenda do juiz para ele (o repórter) quando comparecer à audiência e o juiz já tiver lido as peripécias do desidioso repórter...

 Oficial de Justiça