Boanerges Cezário *
Trabalhei com uma oficiala , que era uma daquelas que quando recebe um mandado gosta de resolver
antes do tempo previsto, pois tem uma vantagem sobre os outros: o marido também
é Oficial de Justiça, então os dois cumprem mandados juntos.
Enquanto
ele (o maridão) dirige, ela de co-piloto olha os mapas, interage com o navegador
gps, fala pelo celular com a diarista para saber como anda o serviço de casa e ainda tem tempo pra perguntar se as
filhas estão na aula ou dormindo...
Bom,
certo dia pegou diligência pras bandas da praia de Sagi, passando também pelas belas Praias
de Sibauma, Tibau do Sul e Baía Formosa, para cumprir um mandado daqueles tipo avião orbitando, que vai e volta ao
mesmo lugar, esperando a torre autorizar o pouso no lugar onde levantou vôo.
Ela tinha
saído por volta das 8h15min da manhã para cumprir tão emaranhada diligência.
Quando
chegou a praia de Baía Formosa, paraiso de Ítalo Ferreira, a executada de nada sabia, informando que só o
filho sabia onde era.
Em
seguida, o filho apareceu, desenhou um mapa tosco do local e lá no final da
tarde, ela e o marido pegaram estrada para a praia de Sagi.
A
estrada é no meio de canavial e, depois de 13Km, começou a ficar tarde e não
conseguiram encontrar os lotes.
Resolveram,
então, voltar , mas por precaução esperaram um carro passar para acompanharem.
A
coisa e o tempo estavam ficando esquisitos feito filmes de terror, onde o local
é bonito, mas é silencioso e de lá ninguém sai, depois que entra...
Mas
eis que do nada, apareceu um carro de uma empresa de manutenção com o nome de
Jorge Manutenção.
Então,
resolveram seguir o Jorge já que estavam meio que perdidos e seguindo aquele
carro, talvez conseguissem alcançar a estrada de forma mais tranquila.
Mas o
tal do Jorge começou a pegar velocidade, deixando poeira para trás, e teve um
momento que não conseguiram mais ve-lo, o Jorge corria com tanta velocidade que
deixou para trás o casal-de-meirinhos-longa-mouses perdidos.
Para
quem não conhece, aqueles lindos canaviais encrustados nos arredores daquelas
praias, às vezes servem para desova de
cadáveres.
Contei
a saga pra o filósofo agrestino Zé Bidu, ele coçou o cavanhaque, arregalou
os,olhos e disse:
- o
senhor não imagina o que tou pensando...
- o
que foi, Zé?
- acho
que o Jorge estava com medo do casal e
correu desesperado pensando que era emboscada, mal sabia ele que o casal que o
seguia estava com medo e queriam segui-lo por segurança...
Continuou o Zé...
- Reza a lenda que São Jorge é o protetor dos soldados, oficiais de justiça, escoteiros e esgrimistas, mas o Jorge que ali corria estava mesmo era com medo
.
.E disse mais:
- En passant, lembro que Sagi em japonês significa “fraude” e que em hebraico significa “sublime, elevado”.
Complementando o raciocínio, o filósofo do agreste arrematou:
- Será que o Jorge pensou que o casal sublime era uma fraude? Mal sabia ele que o casal oficial via nele, o Jorge, uma esperança para escapar do local e evitar um encontro fraudulento por aquelas vicinais escabrosas de sublimes verdes canaviais..
Enfim,
não sei muito se a semântica da palavra se encaixa nessa crônica, nem sei se a
sintaxe permite pensar nela (a palavra) num momento tão tenebroso como o que
passou os dois nobres colegas em diligência campal na busca de alguns 387 lotes.
Mas
fica-se apenas a suspeita que o Jorge correu muito, mas foi com medo, muito medo
do casal que vinha num carro atrás dele e, ao que pareceu ao Jorge, estavam
ali parados na estrada à espreita esperando por ele.
Moral da Estória: quando não puder se utilizar da expressão “Salve
Jorge”, utilize a mais apropriada ao caso, ou seja, “salve-se quem puder.”
Autor*