Boanerges Cezário*
Dia desses, encontrei um colega contemporâneo de faculdade e foi aquela
conversa boa, onde deu tempo até de falar sobre família, chegada de netos,
casamento, futebol e política.
Esse amigo de longas datas prestou concurso para a carreira de
Oficial de Justiça do TJ e me contou um causo de um mandado da vara de família.
E o causo eu conto como o causo foi ou como deve ter sido.
O fato aconteceu depois que um religioso traiu a esposa com outra religiosa. Entenderam aí o começo da confusão?
Os dois casados deram uma
puladinha de cerca.
Aí ocorreram aquelas cenas diversas. O outro marido descobriu, preparou
o flagoroso flagrante e chegou lá no motel na hora boa (boa para o casal
pulador de cerca).
Uma gritaria, aqueles pedidos de “para com isso”, “vamos conversar”, o
choro com “você destruiu minha família” e outras expressões comuns que
acontecem nesses momentos complexos.
E, claro, como o colega terminou falando, ia acabando em processo, que
culminaria em apontar possíveis culpados, onde todos terminariam por ser
intimados. Isso tudo iria enfim trazer a tona mandados diversos para o Oficial
de Justiça cumpri-los.
Acontece que, segundo ele, o causo teve uma reviravolta e todos os
envolvidos se perdoaram mutuamente.
Assim, o quatrilho engatilhado assim se desfez :
O marido traído perdoou a esposa e o amante, que por sua vez foi
perdoado pela esposa traída.
A esposa traidora, amante do esposo traidor, foi perdoada pela esposa dele.
Uns dias depois , a esposa traidora declarou à imprensa e
enredamentos sociais "que tudo foi culpa de satanás, que tudo não passou
de julgamento indevido das redes sociais."
O colega depois da extensa narrativa me perguntou o que eu achava e
assim lhe respondi:
- Veja bem, não sei se esse pessoal envolvido poderia ser chamado de
religioso no sentido raiz da palavra , mas uma coisa é certa a paz foi
conseguida e o processo, se foi iniciado, será arquivado definitivamente em breve.
Meu amigo de turma ainda insistiu e perguntou sobre o que eu
achava sobre a possibilidade do processo continuar, então bati o martelo e
falei:
- olhe só, mesmo se satanás fosse o culpado de verdade, como acredito
que foi sob a ótica do quatrilho, seria impossível continuar com o processo,
pois até hoje não sei como finalizar uma citação para o citado-citando-tinhoso.
Além do mais, se os outros citados-citandos-possíveis-culpados fazem parte da
anônima turma das redes sociais, também seria impossível nominar quem foi que
atirou a primeira pedra contra os inocentes casais, vitimas que foram das
famigeradas fake news, que viram traição num vídeo , que jamais
será (a)provado...
Moral da História: como já dizia um Apedeuta amigo meu, que estudou na mesma época
na faculdade "em briga de quatrilho só quem se salva é o bigorrilho!"
Oficial de Justiça
6ª. Vara - JFRN